À procura de argumentos para falar que o time não cai

Vamos ficar cientes de uma coisa: o Cruzeiro pode cair sim e estamos no caminho certo pra isso.

É uma balela dizer que força da torcida ajuda, mando de campo favorece (hahaha), juiz rouba, time grande não cai e tantas falácias que dizem por aí. Cai sim, sem discussões.

Corinthians é grande e foi campeão em 2005, tem torcida louca, apaixonada e caiu dois anos depois.

Encher estádio também muda nada. Olha a torcida do Paysandu, do Santa Cruz… É mais raro vê-los na séria A do que até na D.

Enfim… Seja pequeno, grande, médio ou que se acha grande: pode cair.

Somos do grupo dos incaíveis até hoje por coincidência do destino. Quis os deuses do futebol que fosse assim, mas acho que eles querem brincar um pouco mais com a nossa cara já que estamos procurando tanto essa brincadeira.

Foto: Yuri Edmundo / LightPres

Foto: Yuri Edmundo / LightPres

Dos clubes do antigo “clube dos 12”, um parâmetro que vejo como os maiores no Brasil, ter a receita que tem e terminar uma temporada inteira após fazer um campeonato estadual medíocre, um brasileiro com quase 40 rodadas terrível e perder vaga na série A pra times como Figueirense, Chapecoense e etc (com todo respeito, digo em relação à receita), é pela mais pura incompetência do único denominados comum entre todas as mudanças de técnico, jogadores, estrutura, fornecedores e estádio em um ano: a diretoria.

O Cruzeiro em 2016 foi um desastre anunciado desde 2015. A convicção, que tanto pregavam que tinham, na verdade acabou sendo a falta de convicção. A política nova da diretoria apenas foi mais da mesma e das piores possíveis.

Como num cabo de força, a diretoria puxava muito pra um lado e arrebentava pro outro. E de tanto puxarem essa corda, estão nos levando mais e mais pro fundo do buraco.

Marcelo Oliveira, Luxemburgo, Mano, Deivid, Paulo Bento… Claro que teve mudanças que eram óbvias a serem feitas, mas é aquele ditado que aprendemos quando somos crianças: quando você está apontando o dedo pro outro, são três que voltam à sua direção.

Ser administrador e ser diretor tem que ter competência para tal. Precisam, além da convicção do que fazem, saber o que fazem. Pregaram convicção, mas mostraram falta de sabedoria.

Eu, Luciana, não posso ser diretora porque não sei. Admito isso. Não posso chegar lá sendo apenas torcedora. Há um grande abismo de diferença nisso. Quando a torcida chia, manda carta de recepção pra novo técnico ou apelida um outro, ela está sendo torcida, mas não administradora. As vezes é necessário mesmo tapar os ouvidos porque a torcida também é burra.

Nessa caminhada do título de 2014 à esse MEGA flerte com a série B em 2016 falou-se muito, deu carta branca a tantos que não devia, acreditou-se numa convicção no início dos trabalhos, mas perdeu-se como ninguém. Admitiram erros tardios, mas não sabiam mais como arrumar.

Resta a nós ficar na torcida. Que os deuses do futebol tenham ao menos pena para que esse elenco jogue o que pode jogar (que sei que os caras são bons), porque eu não tenho mais argumentos pra ver o lado bom desses últimos dois anos.

2016, Euricos, Perrellas, clássico e futebol

Eu não quero falar sobre a fase do Cruzeiro. Desculpa.

Às vezes uso a frase “não é só futebol” no inverso porque o que não é só, é só sim. Houve uma época em que eu estressava mais, discutia mais, brigava mais por futebol. Não perderia uma discussão qualquer e comprava a briga pelo meu time.

Hoje aprendi que quando o despertador toca no dia seguinte podemos sim esquecer o futebol do dia anterior, ainda mais que temos tanta conta a pagar, tanta vida pra viver, tanto trabalho pra fazer. Futebol, mesmo que a gente dê um valor absurdo, é um nada que achamos que é tudo. Mesmo sabendo e repetindo isso algumas vezes, nunca cedemos à verdade.

Há pouco tempo entrei em uma discussão que no fim das contas um colega concluiu que o Zezé Perrella é melhor que o Gilvan porque não levava desaforo pra casa. Agradeço aos Perrellas pelos títulos, mas me desculpe: em pleno 2016 “levar desaforo” é uma expressão tanto infantil quanto sair na rua brigando por causa de torcida organizada.

Foto: Agência I7

Foto: Agência I7

No futebol de hoje, personagens polêmicos ganham holofote apenas por isso e nada mais. A família Perrella fez nada de 2004 até o terrível fim de mandato em 2011 (8 anos), porque, creio eu, não conseguiram manter um time bom com as cifras modernas do futebol. Eurico Miranda no Vasco só voltou pra diminuir a importância no futebol nacional de um dos times com maior torcida do país. Kalil, talvez o ponto fora da curva dos diretores recentes mais polêmicos, saiu antes da bomba do Atlético explodir (desculpe amigos atleticanos, mas a verdade é que: não há milagre financeiro). Jogadores polêmicos também não aparecem tanto, ou por causa da assessoria ou porque realmente perdem o foco. Vide Adriano Imperador, Jobson…

Homofobia, racismo e machismo ainda persistem, mas hoje ao menos existem pessoas com vergonha disso. Olham para o lado pra ver se não vão fazer sozinhos e reparam se ninguém de fora está vendo. Futebol moderno em arenas modernas tem muitos lados ruins, mas o pensamento moderno tem que existir. Não por ser de “esquerda”, “feminista” e sei-lá-mais-o-quê, mas por questão óbvia do respeito.

Hoje, mesmo numa fase horrível do meu time, futebol ficou mais divertido pra mim. Não levo desaforo pra casa porque eu decidi não ter desaforos. Me chamam de Maria e… nem sei o que faço mais que nem reparo. Meu time perde, mas vida que segue que tenho que acordar cedo para ir trabalhar e umas provas na faculdade pra estudar. No dia seguinte talvez estarei fazendo piada pela péssima fase do meu time. Ir ao campo não é só pra ver o time ganhar (claro que quero), mas estão lá os amigos, os cantos, a festa, a atmosfera… tanta coisa a mais!

Faz um turno que, quando estava em casa nervosa com o clássico das 11 da manha, meu tio ligou no meio do primeiro tempo falando que tinha capotado o carro na 040 e precisava de ajuda. Naquele desespero todo, eu não lembro mais de como foi o jogo mesmo que a TV tenha ficado ligada. E no mesmo dia teve gente que foi pro hospital por causa de briga de torcida no Eldorado!

Pessoal: parem com isso que ter rival é ótimo. Até pra ser Barcelona precisa de ter um Real Madrid. As nossas conversas de elevador seriam apenas sobre o tempo se não fosse o futebol e suas rivalidades. Deixem essa rivalidade – a imbecil – apenas no passado.

Mas sorte pra quem quer continuar vivendo nos anos 80-90 que eu vou ficando por aqui em 2016, que é tanta vida pra viver…


Fotos: Agência i7

O mito da camisa oito

“Mais importante do que ser campeão do mundo  é entrar na história e lá ficar, para sempre.”

Johan Cruyff

Pouco se fala do camisa 8. A 8 do Tostão, do Ricardinho e, agora, do Henrique. Em toda história do Cruzeiro, a 8 sempre foi honrada com digníssimos donos.

Podemos observar a 10, tão aclamada 10 de Dirceu e Alex. Por muito tempo mesmo, foi humildemente carregada por Dirceu. Foram 10 anos com sua assinatura e sua moral. Mas a 8 é duradoura. 10 anos com Tostão, 10 anos com Ricardinho e, praticamente, 8 anos com o Henrique. A 8 do Tostão, tantas vezes confundida com a 10, é historicamente bem tratada. Se somarmos esses tempos, foram 28 anos com donos certos, o que representa quase 30% da história do Cruzeiro!

Clássico mineiro em 1967 | Foto: Blog Atletico x Cruzeiro Raridades

Clássico mineiro em 1967 | Foto: Blog Atletico x Cruzeiro Raridades

Começamos com o Tostão, foram 383 jogos e 245 gols em 10 anos. Poderia até ser mais se o Yutrich não tivesse vindo, mas deixemos as água do passado lá no passado… Ele e Dirceu Lopes, indiscutivelmente, estão no posto de maiores jogadores da história do Cruzeiro.

Na década de 90 surgiu outro grande dono pra camisa 8 celeste. Ricardinho, franzino e cria da base, conquistou a titularidade aos 19 anos e foi largar 7 anos depois. O maior pé quente da história do Cruzeiro com seus 15 títulos, entre eles, uma Libertadores e duas Copas do Brasil.

Mas hoje quero falar do nosso camisa 8 atual, o qual não possui marketing, não tem rede social e nem é muito bom de entrevista. Não sobe no caixote, não é polêmico e está sempre aparecendo nos VTs de horas importantes. Praticamente 8 anos dedicados à um clube onde passou por tudo: reserva, mas sensação em 2008. Vice da Libertadores (com seu gol na final) em 2009, imenso em 2010, convocado e vendido em 2011. E então voltou em 2013 .

Em 2013 veio com um troco de uma grande venda. Ninguém o queria, mas ele quis vir. Antecipou sua apresentação para poder voltar ao Mineirão e lá estava como menino que não via uma bola há muito tempo. Era uma cara de besta de felicidade para começar um ano que não seria fácil para ele. Por respeito, ficou com a 8 na numeração fixa em meio à rostos desconhecidos. Voltava de cirurgia, teve que refazê-la e voltou ao fim daquele ano, tendo entrado em poucos jogos, inclusive o do título.

Talvez seja predestinado para que assim seja. O camisa 8 do Cruzeiro nunca será mero coadjuvante mesmo que o tempo e as análises – estranhas – diga isso à ele.

Em 2016 vinha sendo criticado. Era “velho”, “lento”, vaiado na escalação e uma história esquecida. Claro que história não joga bola, mas é a velha máxima que defendo sobre jogadores em fase ruim, mas que não significa que sejam ruins. É a diferença do “ser” e “estar”. E agora não podemos imaginar, mais um vez, o Cruzeiro sem o Henrique e o Henrique sem o Cruzeiro.

E hoje ele continua sendo e também está: um real camisa 8 do Cruzeiro.

Obrigada, capitão.