A carta que eu gostaria de receber no dia de hoje

Mulheres, hoje estamos aqui para falar diretamente para vocês.
Entendemos que um dia se sentiram excluídas deste esporte que “é para homem” e temos o dever de lhes pedir desculpas.
Desculpas porque não quero mais que a sua presença seja olhada como surpresa na arquibancada, nem que seu nome seja sinônimo de insulto ou que seu grito seja subestimado. Não queremos apenas exibir e eleger musas, porque aprendemos que o mais importante é ver as marcas da vida no corpo e, de preferência, algum escudo no peito.
Não quero que vocês sintam medo de ir para o campo. Vocês podem e devem ir aonde quer que queiram. Ninguém, em nome do futebol, pode lhes impedir que o seu desejo se cumpra. E quero que vocês se sintam em casa pra compartilharmos tantos momentos alegres ou até mesmo os tristes.
Dizem que no coração de mãe sempre cabe mais um? Então queremos ser reflexo de vocês e sempre lhes receber melhor.
Eu torço para que vocês tenham mais raça, gana e nunca parem de sonhar. Tudo aquilo que vocês gritam na arquibancada para que saia um gol, eu quero que vocês recebam de volta para enfrentar a vida. Feminicídio, diferença salarial, discriminação intelectual e tantos outros fatos são bem mais fáceis de enfrentar do que o nervosismo de uma final disputada nos pênaltis. Vocês são mais fortes do que um chute do Nelinho e ainda com a coragem de levar a alegria do Dada Maravilha!
Donas de casa, estudantes, médicas, engenheiras, faxineiras, administradoras, jornalistas ou qualquer função que seja: mulheres, o futebol lhes deve o mundo,
Nossos mais sinceros pedidos de desculpa.

 

Queria que alguém me mandasse uma carta assim. Mas eles não quiseram.

[CDM] A camisa branca do Cruzeiro (ou uma crônica sobre minhas superstições)

O empate amargo contra o Santos, no último domingo, acabou com a curta sequência do Cruzeiro vestindo a histórica camisa branca, que tanto nos trouxe boa sorte nos anos 1990. De uns anos para cá – mais precisamente desde aquele dermedibre 2011 –, o clube, quando mandante, passou a adotar o segundo uniforme como medida desesperada em momentos difíceis. Se ela nos impediu de cair pra série B ou nos classificou para a final da Copa do Brasil, eu não sei, mas seria muita ousadia da minha parte ignorar as superstições – as dos outros e as minhas.

Foto: Agência i7

Quando assisti “O lado bom da vida” saí do cinema me lembrando de todas as derrotas do Cruzeiro das quais me sentia corresponsável.  Para quem não viu o filme ou não leu o livro de Matthew Quick, que deu origem ao roteiro, eu contextualizo rapidinho: Pat (Bradley Cooper) recebeu alta de um hospital psiquiátrico e enquanto tentava ajeitar a vida, voltou para a casa dos pais. A família dele era torcedora fanática do Philadelphia Eagles, time de futebol americano que disputa a divisão leste da NFL. Pois bem… Numa cena, o pai (Robert DeNiro), se preparava para assistir ao jogo na sala e dobrando meticulosamente um lenço verde – cor dos Eagles – e alinhando numa mesinha três controles-remoto mais à direita, como se os objetos dobrados ou alinhados incorretamente causassem um efeito borboleta, mudando o curso natural do jogo.

A plateia no cinema riu. Eu fiquei desconfortável. Aquilo não teve graça. Principalmente para quem já fora vítima do efeito borboleta. Era 13 de dezembro de 1998, primeiro dos três jogos da final do Campeonato Brasileiro. O Cruzeiro ganhava de 2×0, no Mineirão. Avistei um chinelo virado no chão da sala. Desvirei-o. Salvei a vida da minha mãe (outra superstição!), mas baguncei o universo: em cinco minutos, o Corinthians arrancava o empate.

Com o retorno de Pat ao convívio familiar, os Eagles ganham um novo reforço. Ou pelo menos é isso que o pai acredita, já que quando assistem aos jogos juntos, o time da águia raramente perde. Fui ao Mineirão com meu irmão em todos os jogos da fase de grupos e na partida de volta das oitavas da Libertadores de 2009. Não fomos aos jogos contra o São Paulo (quartas) e Grêmio (semi), mas assistimos juntos pela TV. Na final, quis meu irmão mudar o modus operandi e assistir ao jogo sabe-se lá onde. Por muitos dias, senti mais raiva dele do que de Gerson Magrão, Wagner ou Kleber, por exemplo. Como ele ousou mudar o nosso ritual?

Como tragédia pouca é bobagem, a camisa que eu vestia na noite da final fora amaldiçoada – nunca mais vi uma vitória do Cruzeiro com ela em meu corpo. O que fazer? Jogar fora, queimar? Não tive coragem. Deixei-a esquecida na gaveta, com a esperança de que desaparecesse sozinha para uma terceira dimensão – junto com tampas de caneta BIC, brinquinhos de boneca Barbie e isqueiros. Mas ela continuou na gaveta enquanto o Cruzeiro era garfado no Brasileirão de 2010, namorava o rebaixamento em 2011 e fazia figuração em todas as competições de 2012, ano em que a camisa acabou indo pra sacola de roupas para doações de Natal. Preciso lembrar o que aconteceu em 2013, após o fim do ciclo da camisa do mal?

Em “O lado bom da vida”, o irmão de Pat também era supersticioso. A van que o levava com os amigos ao estádio precisava estar estacionada sempre no mesmo lugar, caso contrár

io… Já sabem! Não, não tenho nenhuma história supersticiosa envolvendo meios de transporte. Mas me lembrei aleatoriamente de uma sequência de vitórias que emplaquei no Mineirão certa vez. Ao mesmo tempo, um amigo perdia todas. Fomos juntos um dia para medir forças. Eu, Jedi. Ele, Sith. O jogo ficou 0x0.

Uns são guiados por Deus, Jeová, Ewa, Exu ou Iansã. Outros contam com aquela camisa fedida da sorte ou no sol em capricórnio e Marte em escorpião. Acaba que todo mundo sabe que o que ganha jogo é bola na rede, é esquema tático inteligente, é raça…  Mas cá entre nós: desde quando futebol é 100% razão? Nunca tive uma superstição fixa, mas às vezes cismo que certas coisas podem ter ajudado e acabo reproduzindo-as, transformando-as em ritual. Nem sempre dá certo, assim como a camisa branca do Cruzeiro. Mas no aperto, não me custa nada fazer a minha parte de forma irracional e tentar.

No fundo eu sei que não tenho culpa pelos títulos perdidos, desclassificações dolorosas ou temporadas ridículas do Cruzeiro, mas mesmo assim, “ desculpa qualquer coisa”.

Foto: Agência i7

PS1: O filme “O lado bom da vida” está no Netflix. Assistam! Resolvi ler o livro, que obviamente é muito mais legal que a adaptação cinematográfica e destaca melhor a relação da família de Pat com os Eagles e como o esporte foi capaz de conectar pai e filhos.

PS2: Você já se submeteu a alguma superstição? Conta pra gente aqui nos comentários.

Rafaela Freitas


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[CDM] Efetividade no ataque, acaso e história: um prognóstico para a batalha em Porto Alegre

Semifinal contra o Grêmio, de novo, pelo segundo ano consecutivo. Desde o esquecível 26 de outubro de 2016, infelizmente, nada mudou por aqui: chegamos mais uma vez desacreditados depois de uma campanha irregular e uma temporada nada empolgante. Ano passado, estreamos na Copa do Brasil com um 0x0 contra o Campinense (PB), o que nos obrigou a vencer a uma segunda partida no desespero, por 3×2. Fomos protocolares nas duas fases seguintes, atropelamos o Botafogo nas oitavas, mas conseguimos fazer quatro gols no Corinthians e mesmo assim passar sufoco em pleno Mineirão, nas quartas. Toda semelhança não é mera consciência. Este ano, começamos empolgados com a vitória em cima do Volta Redonda e as goleadas contra São Francisco e Murici. Depois, mais sufocos contra o São Paulo, Chapecoense e as trapalhadas na Arena Palmeiras, que quase nos custaram a classificação. Vemos pela segunda Copa do Brasil consecutiva um Cruzeiro pouco criativo, com dificuldades em tomar decisões, finalizar, balançar as redes e segurar resultados. Apesar de tudo isso, dá para sonhar com um bom resultado em Porto Alegre? Mas é claro que sim!

Tenho um segredo motivacional quando o assunto é mata-matas: a Libertadores de 1997, o primeiro torneio do Cruzeiro que eu acompanhei como torcedora e amante de futebol em formação. O título fez 20 anos no último domingo, o que torna tudo ainda mais místico para esta semana. O Cruzeiro de 1997 até hoje é o campeão de Libertadores com a pior campanha: foram seis derrotas, disputas de pênaltis, vitórias minúsculas e empates que o regulamento permitia.

O Cruzeiro, provavelmente, entrará em campo na quarta-feira com cinco jogadores que estiveram na primeira partida contra o Grêmio no ano passado: Léo, Robinho, Sobis, Alisson, Romero – estes dois, hoje, em suas melhores fases na equipe. Se o ataque continua sem inspiração com Sobis, o meio-campo ganhou um reforço importante de lá para cá: Thiago Neves. E se Lucas e Edimar nos deram dor de cabeça nas laterais, este ano podemos contar com a regularidade de Diogo Barbosa e do próprio Romero improvisado por lá.

Arquivo/Jornal Hoje em Dia.

Depois de perder as três primeiras partidas da fase de grupos, o Cruzeiro conquistou a primeira vitória na competição em Porto Alegre, contra o Grêmio. Aquele gol de peixinho do Palhinha é uma das primeiras lembranças mais claras que tenho de jogos do Cruzeiro. Mas o reencontro, nas quartas, sobretudo o jogo de volta, ficou na memória. Fomos para Porto Alegre com 2×0 de vantagem. Machucado, o volante Fabinho ficou plantado na área para chutar qualquer bola que aparecesse, já que não conseguia correr. E quando o acaso entra em campo, não tem jeito. Fabinho abriu o placar. Mas o Grêmio tinha um dos melhores elencos do Brasil e foi pra cima para virar o jogo. “O que acontece agora?”, perguntei para o meu pai. “Se o Grêmio fizer mais um vai para pênalti. E se fizer dois, o Cruzeiro é eliminado”. Senti pela primeira vez na vida o coração disparado, o peito apertado, uma dificuldade para respeitar. Era angústia. Uma vontade incontrolável de gritar de alívio toda vez que o narrador gritava o nome de Dida. E só dava Dida! Eu só conseguia ouvir Dida. “Não sei o que Dida. Dida não sei o que lá”. Foi naquela noite que minha mãe me ensinou a fazer figas com os dedos para secar o ataque adversário. 35, 38, 40, 45 minutos e os dedos ficavam cada vez mais vermelhos de tanto que eu apertava.

Entram em campo amanhã duas realidades completamente diferentes. Enquanto espera o próximo confronto pela Libertadores, marcado para o mês que vem, o Grêmio pode se dar o luxo de focar o momento na Copa do Brasil e poupar jogadores no Brasileiro, mesmo sendo vice-líder da competição. O Cruzeiro, por sua vez, vacila quando as chances reais de G6 surgem. Por isso, depositamos nesta Copa do Brasil todas as esperanças de salvar uma temporada que prometia ser o que não foi até agora.

Chega de viajar 20 anos no tempo para voltar para dois meses atrás, naquele 3×3 pelo Brasileiro, com os mesmos erros de sempre desta temporada. Levamos dois gols de bobeira no momento em que tínhamos mais posse de bola, dominávamos o meio-campo e criávamos as melhores chances de gols. Faltou criatividade para passar à frente no placar. Como trunfo, tivemos raça e paciência para empatar, duas vezes. Lições aprendidas? Amanhã a gente descobre.

Em 1993, a memória infantil não foi capaz de registrar o momento, mas sei que vencemos a Copa do Brasil em cima do Grêmio, num jogo que também teve uma pitadinha de sorte, com um frango histórico do goleiro rival. Sorte esta que anda em falta com o Cruzeiro recentemente. Mas bons times não deviam depender de sorte – e nós temos, sim, um bom elenco. O grande pecado do Cruzeiro hoje é errar aquele último passe. Se Mano Menezes conseguir dar um jeito nisso de hoje para amanhã, dá para voltarmos de Porto Alegre com alguma vantagem – assim como fizemos tantas outras vezes ao longo da história. Mas se precisarmos o acaso para trazer a vitória, não dispensaremos também, não. E a figa que minha mãe ensinou há vinte anos continua sendo a minha principal arma para ajudar o Cruzeiro.

Rafaela Freitas


A Rafaela escreveu aqui pra gente 15 dias atrás e ela manda bem pra caramba, né? Quer mandar seu texto aqui pra Coluna das Marias? Leia mais informações aqui para saber mais informações sobre como entrar em contato.

[CDM] Torça como uma mulher

Continuando a Coluna das Marias, hoje apresento pra vocês a Rafaela Freitas. Lembra aquele texto que escrevi em Junho? Então olha lá na caixa de comentários o que ela escreveu falando sobre a experiência dela (sério, olhem mesmo!). Por isso eu a convidei pra escrever aqui e, fiquem tranquilos, ela vai escrever mais pra gente! Têm tantas mulheres com opinião FODAS e fortes pra falar sobre futebol! Se você é mais uma entre tantas, pode entrar em contato comigo e não tenha vergonha! Com vocês, a coluna da Rafaela:


Antes de conhecer a origem da expressão “torcedor”, eu costumava invejar os gringos de língua inglesa por poderem chamar de “fans” os seguidores de atletas e equipes esportivas. Etimologicamente não existe melhor definição (vem do latim Fanaticus, uma pessoa submetida quase que cegamente por paixões e sentimentos despertados por um deus). Sempre gostei também de “hinchas”, de nossos vizinhos da América Latina. A origem da palavra é uma simpatia só: vem da antiga prática de inchar (hinchar) os pulmões com ar para encher as bolas das partidas, no início do século 20, num tempo em que ainda não se usava bombas manuais, tampouco elétricas. Por aqui, somos “torcedores”, expressão popularizada na década de 1920, nos primórdios da profissionalização do futebol, e que surgiu a partir do comportamento das mulheres nas arquibancadas, que torciam os seus lenços para aliviar o nervosismo durante as partidas. Pois é… as mulheres!

Jogo de Futebol em São Paulo em 1921 | Arquivo O Globo

Na época, o futebol era um hobby exclusivo das elites brancas. As esposas e filhas dos sócios de clubes de futebol tinham acesso gratuito aos jogos. No entanto, com a popularização do esporte e a rentabilidade com a venda de ingressos, os clubes retiraram a gratuidade. Somado isso à mudança de perfil do público nos estádios – majoritariamente homens de diferentes classes sociais –, as mulheres foram, aos poucos, sendo excluídas do futebol. Além não serem provedoras de seus lares e, consequentemente, não terem como arcar com ingressos, as mulheres não poderiam se atrever a frequentarem um ambiente que se tornara cada vez mais masculino. Para piorar ainda mais a situação da mulher nos estádios, em 1941, um decreto, revogado apenas na década de 1980, proibia a prática do futebol por mulheres por considerar um esporte pouco feminino e violento.

Estar longe dos estádios, mas não necessariamente do futebol. Ao longo da história, as mulheres continuaram torcendo seus lencinhos, roendo suas unhas e acompanhando pelo rádio os jogos dos clubes do coração. O da minha avó foram o Vasco e o Cruzeiro. Conversávamos sobre o Cruzeiro, mas nunca lhe perguntei “por que diabos o Vasco?”. Acho que o motivo era o Tostão. Ela sempre dizia que para Pelé era fácil marcar gol, pois quem fazia o difícil naquela seleção era o Tostão. No interior de Minas, minha mãe ficava atrás de notícias do placar do último jogo do Cruzeiro. No Rio Grande do Norte, minha tia sempre dava um jeitinho de ir escondida com meu pai aos jogos do América-RN.

Felizmente, nasci e me tornei torcedora numa época um pouquinho mais permissiva para nós. Nasci um ano antes da primeira partida oficial da seleção feminina (contra os EUA, em 1986). Lembro-me dos clubes adotando políticas de gratuidade para mulheres ao longo da década de 1990 – políticas hoje questionáveis, mas que em curto prazo, naquele tempo, serviu para nos colocar gradativamente de volta aos estádios. Começávamos a reconquistar aqueles lugares onde, sem querer, batizamos os torcedores. Mas ainda não podíamos ir sozinhas. Nossos pais, tios, irmãos, amigos, maridos e namorados estavam lá para nos proteger daquele mar de testosterona, derramando violência e assédio. De lá para cá, como sabemos, pouca coisa mudou. Basicamente, resolvemos nos arriscar sozinhas ou acompanhadas de outras mulheres nos estádios, começamos a entrar nas conversas sobre os jogos e entender a regra do impedimento.

Cem anos nos separam dos lencinhos torcidos. Parece uma eternidade, mas infelizmente ainda nos vemos numa sociedade emergente quanto à discussão sobre a presença da mulher no futebol. A maioria dos clubes desconversa quando o assunto é time feminino. Não estamos nas diretorias e somos poucas nos departamentos médicos. Poderíamos ser mais no jornalismo esportivo e em blogs de torcidas. Poderíamos ser mais Marias por aqui. Poderíamos ser ainda mais nas arquibancadas. Poderíamos ser mais, mas felizmente já somos o suficiente para começar a problematizar, discutir e nos reunir com outras torcedoras para acabar com qualquer minuto de acréscimo dessa cultura patriarcal que permeia o mundo do futebol. Torcemos e lutemos como mulheres!

PS: Fiquei muito feliz com o convite da Luciana para escrever para a Coluna das Marias e orgulhosa em saber que outras Marias também terão espaço por aqui para contar suas histórias e resenhas sobre o Cruzeiro. Eu mesma tenho algumas e gostaria de compartilhá-las em breve.

Rafaela Freitas

[CDM] Cadê os times femininos, Cruzeiro?

Aqui é a Luciana Bois escrevendo. Devido ao meu último texto, algumas mulheres me procuraram querendo abrir um espaço pra que todas possamos falar sobre o Cruzeiro, futebol e essas coisas. Então abri uma coluna aqui, pra quem sabe um dia fazermos um site, ein?! Então se tiverem interesse, me procurem e podem mandar seus textos que publicarei aqui. Não fiquem com vergonha sobre falar qualquer coisa e se precisarem de dicas, eu finjo que sou expert e ajudo! Então pra iniciarmos esse “bate bola” (unm… cheia das expressões futebolísticas), vem aí para vocês a Izabela pra perguntar cadê os times femininos, Cruzeiro?!


A partir de 2019, os times que estiverem na Copa Libertadores devem ter time feminino futebol PROFISSIONAL. Ressaltei em letras garrafais porque é bem provável que, caso contrário, as coisas poderiam ser feitas nas coxas, apenas para dizer que tem um time feminino de futebol e pronto.

No Cruzeiro, enquanto presidente, Zezé Perrela chegou a declarar que não havia a mínima condição de montar um time feminino pelo simples fato de não ter patrocínios e incentivo para que isso fosse viável. Pois bem, a instituição logo será obrigada a montar um time, provavelmente às pressas e logo vão dizer: “Tá vendo? Era pra isso que queriam o futebol feminino? Para passar vergonha?”. Um projeto precisa de tempo para ajustes normais e a cobrança provavelmente será como se o time já existisse pelo menos há uns 30 anos.  Já estamos no meio de 2017 e nem sinal de que isso está sendo tratado entre conselheiros ou se existe algum projeto, mesmo que embrionário.

Santos 2 x 1 Iranduba em Manaus com 25.371 pessoas. Futebol feminino aí, oh! | Foto: Bruno Kelly

O multicampeão Sada Cruzeiro sofreu forte pressão de parte dos conselheiros porque consideravam o esporte vôlei “inadequado”  (se é que vocês me entendem) para ser vinculado a marca Cruzeiro.  E a caminhada não foi fácil! Mesmo sendo masculino, tinha muita gente lá no Cruzeiro que torcia o nariz até pelo fato dos atletas treinarem no Barro Preto.  E só se manteve por ser muito bem gerido, pela existência de um projeto, planejamento e (consequentemente) os títulos, caso contrário, a parceria provavelmente nem existiria mais.

Sim, o preconceito existe e está nas entrelinhas. Recentemente, o marketing do clube foi premiado no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, um dos principais eventos de publicidade com a campanha #VamosMudarOsNúmeros, lançada no Dia Internacional da Mulher. Notei alguns comentários em redes sociais dizendo que o Cruzeiro não deveria se envolver nessas ações de gênero porque é um clube de futebol (?!). Me pergunto se essas pessoas não têm consciência do papel social que o futebol exerce. Além do mais, neste trabalho em questão será que não sabem a importância de cada vez mais discutirmos sobre a sociedade ainda machista, preconceituosa e que em muitos casos a mulher não denuncia porque tem medo? Em minha opinião, achei a campanha espetacular e mais feliz ainda porque ganhou repercussão internacional. Times de futebol fazem parte da sociedade e devem usar do poder alcançado para influenciar educar as pessoas.

E só comecei esse texto porque queria perguntar: Cadê o time de futebol e de vôlei feminino, Cruzeiro? Mesmo que o futebol feminino seja obrigatório a partir de 2019 nós queremos projeto, planejamento e gestão eficaz. Será pedir muito? Vale ressaltar que o Sada possui o time feminino, mas vejo que chegou a hora dos que dirigem o Cruzeiro largar o preconceito de lado e dar mais um passe adiante.

Izabela Santana