Semifinal contra o Grêmio, de novo, pelo segundo ano consecutivo. Desde o esquecível 26 de outubro de 2016, infelizmente, nada mudou por aqui: chegamos mais uma vez desacreditados depois de uma campanha irregular e uma temporada nada empolgante. Ano passado, estreamos na Copa do Brasil com um 0x0 contra o Campinense (PB), o que nos obrigou a vencer a uma segunda partida no desespero, por 3×2. Fomos protocolares nas duas fases seguintes, atropelamos o Botafogo nas oitavas, mas conseguimos fazer quatro gols no Corinthians e mesmo assim passar sufoco em pleno Mineirão, nas quartas. Toda semelhança não é mera consciência. Este ano, começamos empolgados com a vitória em cima do Volta Redonda e as goleadas contra São Francisco e Murici. Depois, mais sufocos contra o São Paulo, Chapecoense e as trapalhadas na Arena Palmeiras, que quase nos custaram a classificação. Vemos pela segunda Copa do Brasil consecutiva um Cruzeiro pouco criativo, com dificuldades em tomar decisões, finalizar, balançar as redes e segurar resultados. Apesar de tudo isso, dá para sonhar com um bom resultado em Porto Alegre? Mas é claro que sim!
Tenho um segredo motivacional quando o assunto é mata-matas: a Libertadores de 1997, o primeiro torneio do Cruzeiro que eu acompanhei como torcedora e amante de futebol em formação. O título fez 20 anos no último domingo, o que torna tudo ainda mais místico para esta semana. O Cruzeiro de 1997 até hoje é o campeão de Libertadores com a pior campanha: foram seis derrotas, disputas de pênaltis, vitórias minúsculas e empates que o regulamento permitia.
O Cruzeiro, provavelmente, entrará em campo na quarta-feira com cinco jogadores que estiveram na primeira partida contra o Grêmio no ano passado: Léo, Robinho, Sobis, Alisson, Romero – estes dois, hoje, em suas melhores fases na equipe. Se o ataque continua sem inspiração com Sobis, o meio-campo ganhou um reforço importante de lá para cá: Thiago Neves. E se Lucas e Edimar nos deram dor de cabeça nas laterais, este ano podemos contar com a regularidade de Diogo Barbosa e do próprio Romero improvisado por lá.
Arquivo/Jornal Hoje em Dia.
Depois de perder as três primeiras partidas da fase de grupos, o Cruzeiro conquistou a primeira vitória na competição em Porto Alegre, contra o Grêmio. Aquele gol de peixinho do Palhinha é uma das primeiras lembranças mais claras que tenho de jogos do Cruzeiro. Mas o reencontro, nas quartas, sobretudo o jogo de volta, ficou na memória. Fomos para Porto Alegre com 2×0 de vantagem. Machucado, o volante Fabinho ficou plantado na área para chutar qualquer bola que aparecesse, já que não conseguia correr. E quando o acaso entra em campo, não tem jeito. Fabinho abriu o placar. Mas o Grêmio tinha um dos melhores elencos do Brasil e foi pra cima para virar o jogo. “O que acontece agora?”, perguntei para o meu pai. “Se o Grêmio fizer mais um vai para pênalti. E se fizer dois, o Cruzeiro é eliminado”. Senti pela primeira vez na vida o coração disparado, o peito apertado, uma dificuldade para respeitar. Era angústia. Uma vontade incontrolável de gritar de alívio toda vez que o narrador gritava o nome de Dida. E só dava Dida! Eu só conseguia ouvir Dida. “Não sei o que Dida. Dida não sei o que lá”. Foi naquela noite que minha mãe me ensinou a fazer figas com os dedos para secar o ataque adversário. 35, 38, 40, 45 minutos e os dedos ficavam cada vez mais vermelhos de tanto que eu apertava.
Entram em campo amanhã duas realidades completamente diferentes. Enquanto espera o próximo confronto pela Libertadores, marcado para o mês que vem, o Grêmio pode se dar o luxo de focar o momento na Copa do Brasil e poupar jogadores no Brasileiro, mesmo sendo vice-líder da competição. O Cruzeiro, por sua vez, vacila quando as chances reais de G6 surgem. Por isso, depositamos nesta Copa do Brasil todas as esperanças de salvar uma temporada que prometia ser o que não foi até agora.
Chega de viajar 20 anos no tempo para voltar para dois meses atrás, naquele 3×3 pelo Brasileiro, com os mesmos erros de sempre desta temporada. Levamos dois gols de bobeira no momento em que tínhamos mais posse de bola, dominávamos o meio-campo e criávamos as melhores chances de gols. Faltou criatividade para passar à frente no placar. Como trunfo, tivemos raça e paciência para empatar, duas vezes. Lições aprendidas? Amanhã a gente descobre.
Em 1993, a memória infantil não foi capaz de registrar o momento, mas sei que vencemos a Copa do Brasil em cima do Grêmio, num jogo que também teve uma pitadinha de sorte, com um frango histórico do goleiro rival. Sorte esta que anda em falta com o Cruzeiro recentemente. Mas bons times não deviam depender de sorte – e nós temos, sim, um bom elenco. O grande pecado do Cruzeiro hoje é errar aquele último passe. Se Mano Menezes conseguir dar um jeito nisso de hoje para amanhã, dá para voltarmos de Porto Alegre com alguma vantagem – assim como fizemos tantas outras vezes ao longo da história. Mas se precisarmos o acaso para trazer a vitória, não dispensaremos também, não. E a figa que minha mãe ensinou há vinte anos continua sendo a minha principal arma para ajudar o Cruzeiro.
Rafaela Freitas
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