[CDM] Os dias sem fim – ou uma crônica atrasada sobre o penta

Por Rafaela Freitas

O dia 27 ainda não terminou. Permanecerá vivo enquanto a defesa de Fábio, o pênalti escorregadio e decisivo de Thiago Neves ou do choro de alegria do capitão Henrique reprisarem em nossas memórias. Há quem insista no outubro, mas o setembro, mais precisamente o tal dia 27 que tanto demorou chegar, não quer ir embora.

Aquele dia 27. Por Rafael Freitas.

O 11 de junho de 2003 que havia terminado, voltou. O mesmo Flamengo, do mesmo empate suado no jogo de ida no Maracanã. O mesmo gostinho de glória conquistada no Mineirão. Cá entre nós, ali foi até fácil. Abrimos o placar com um minuto e fomos pro segundo tempo com as duas mãos na taça. Enquanto eu gritava pelo tetra, prometia a mim mesma que seria a última vez que sentiria aquela emoção pela TV. Não haveria ambiente insalubre para as mulheres que pudesse mais me impedir de acompanhar o Cruzeiro em campo. Algumas semanas após a conquista da Copa do Brasil daquele ano, lá estava eu, pela primeira vez no Mineirão, encantada com o tamanho do campo, coma loucura da torcida e com os ídolos daquele timaço bem pertinho de mim.

Do momento em que Geovanni é derrubado até o apito de Carlos Eugênio Simon autorizando a cobrança de falta que nos daria o tri, uma eternidade. Aquela noite de 9 de julho de 2000, um domingo, também nunca terá fim. Da mesma forma que o tempo continua congelado na exata hora do gol salvador de Marcelo Ramos, em 19 de junho de 1996 – ou na série de defesas que só Dida poderia realizar durante a caminhada pelo bi. Que o mundo congele no 3 de junho de 1993, quando a idade não me permitia ficar acordada até meia-noite, mas os fogos dos vizinhos fizeram o favor de me informar sobre o gol do Cleison. Éramos campeões da Copa do Brasil pela primeira vez.

Os três primeiros títulos da Copa do Brasil vieram de gols salvadores no fim do segundo tempo – o de Geovanni até hoje é o meu favorito. Um gol tão improvável quanto o penta.

O penta veio para uma equipe que não empolgava e carregava nas costas eliminações inesperadas e um festival empates na temporada. O penta veio com um gol improvável de Diogo Barbosa para nos curar da ressaca daquele empate improvável no Allianz Parque, e com um improvável show de pênaltis desperdiçados na trave no jogo contra o Grêmio. Mas não são as improbabilidades que fazem do futebol apaixonante?

Não teve gol salvador, nem de letra. Não teve futebol de encher os olhos. Mas teve o Cruzeiro sempre gigante. E foi igualmente especial para a maioria de nós. Para mim, um pouquinho mais, pois, pela primeira vez na vida, passei pelas catracas do Mineirão para assistir a uma final de campeonato nacional. Caralho! EU ESTAVA LÁ! Aliás, ainda estou.

PS: Escrevi há algum tempo sobre as superstições aqui na Coluna das Marias. A minha é tentar repetir “situações de sorte”. Para esse título, a caminhada foi longa. Fui com a mesma camisa – sem lavar – nos jogos contra Chapecoense, Palmeiras, Grêmio e Flamengo. Peço desculpas se abracei algum de vocês meio fedida. No jogo contra o Palmeiras cheguei cedo ao estádio e sem nada pra fazer do lado de fora (não estava bebendo no dia) fui recepcionar o ônibus do time – achei prudente repetir esse ritual nos outros jogos. E a partir do jogo do Palmeiras, voltei ao estádio com a mesma calça, lingerie, tênis e meia (a lingerie e a meia foram lavadas, ok?). Acho que tenho uma parcelazinha de responsabilidade nesse título. Alô, CBF! Cadê a minha medalha?

 

Vídeo editado pelo Lucas Bois pela Agência i7 para o Mineirão sobre a final


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